As declarações do presidente Michel Temer sobre o futuro da Lava Jato causaram polêmica no Congresso. Em entrevista exclusiva ao Estado, publicada ontem, Temer disse que as mudanças na Procuradoria-Geral da República (PGR) “darão o rumo correto à Lava Jato” e classificou de “ridículo jurídico” a denúncia contra ele por corrupção passiva – barrada pela Câmara na quarta-feira.
“Não importa se o procurador-geral é A, B ou C. Cabe ao Ministério Público investigar com isenção e é preciso preservar a independência dos Poderes, sem interferências”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).
Autor da denúncia contra o presidente, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixa o cargo no dia 17 de setembro e será substituído por Raquel Dodge. Procurado para comentar as declarações de Temer, Janot não respondeu.
Ao Estado, o presidente também não descartou a possibilidade de troca de comando na Polícia Federal, hoje chefiada por Leandro Daiello. “Este é um assunto que está sendo estudado pelo Ministério da Justiça”, disse ele. “O dr. Daiello está lá há oito, nove anos e fez um belíssimo trabalho.”
Para o deputado Carlos Zarattini (SP), líder do PT, Temer agora faz críticas a Janot e aos rumos da Lava Jato porque as investigações viraram-se contra ele e o PMDB. “Será que o rumo correto seria voltar a focar exclusivamente no PT e no Lula?”, provocou Zarattini. “Eu concordo com muitas críticas à Lava Jato, mas, enquanto a operação atingia o PT, estava tudo certo. Só foram falar mal a partir do momento em que alvejou Temer, o senador Aécio Neves (PSDB) e o PMDB.”
O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), saiu em defesa de Temer e disse que o correligionário nunca interferiu na operação. “A Lava Jato fez um bem muito grande ao País, mas toda operação precisa ter começo, meio e fim, até para não perder o foco jurídico”, afirmou Ramalho. “Mas não é hora de esticarmos essa polêmica.”
Base aliada. Na entrevista ao Estado, Temer também tratou das traições na base aliada e disse que quem não vota com o governo “acabará saindo” da equipe por se sentir “pouco à vontade”. Na votação de quarta-feira, quando o plenário da Câmara rejeitou a denúncia contra Temer, o PSDB se dividiu. Dos 47 deputados da bancada, 22 votaram a favor do presidente, 21 contra e houve 4 abstenções.
Na avaliação do presidente, porém, os tucanos darão apoio à reforma da Previdência, apesar do racha no partido. O PSDB controla quatro ministérios e a toda hora ameaça deixar o governo. “Não temos nenhuma preocupação com cargos”, afirmou Tripoli, que defende a saída do PSDB do governo. “Queremos avançar com as reformas porque elas são necessárias e essas questões estão acima das divergências na política.”
Zarattini disse que o presidente não só é refém do Centrão – bloco formado por partidos médios, com muitos integrantes do chamado “baixo clero” – como de uma base “fisiológica”. “Fora a elite financeira e a base parlamentar, o apoio dele no País é zero”, criticou.
Anfitrião de um jantar para Temer, na véspera da votação da denúncia, Ramalho disse que o momento é de unir os aliados, e não de retaliações. “O PSDB tem de continuar a atrair aqueles que votaram contra o presidente para que as reformas de que o País precisa possam sair do papel”, argumentou o deputado, ao lembrar que são necessários 308 votos para a aprovação da reforma da
Previdência na Câmara. “Os espaços na base já foram divididos. Não dá mais para ter briga por espaços”, completou Ramalho, que no passado ameaçou romper com Temer por causa de cargos para a bancada de Minas.
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